Como Ajudar Quem Não Quer Ser Ajudado?

Começo por dizer que esta questão parte de um pressuposto errado, 
porque na verdade TODAS AS PESSOAS QUEREM SER AJUDADAS. 
O que pode acontecer é:
- A pessoa querer ser ajudada apenas pela(s) pessoa(s) “certa(s)”.
- A pessoa não querer o tipo de ajuda que lhe estamos a oferecer.

E isto é completamente diferente de não querer ser ajudado. Mas vamos analisar a questão com mais pormenor.
Antes de mais porque é que nós achamos que alguém precisa de ajuda? 
Como é que chegámos a essa conclusão?
- A pessoa pediu ajuda?
- A pessoa queixou-se de alguma coisa?
- Vimo-la demonstrar dificuldade em alguma coisa?

Situações possíveis:
·     A pessoa pode não ter problema nenhum. Como tal não devemos assumi-lo antes de termos confirmação verbal por parte da pessoa, ou provas irrefutáveis de que existe realmente um problema.
·     A pessoa pode ter realmente um problema mas está decidida a resolvê-lo sozinha para provar a si mesma (ou a alguém) que consegue ultrapassar um obstáculo, ou lidar com uma situação.
·     A pessoa pode ter um problema mas não tem suficiente confiança em nós para partilhar connosco.
·     A pessoa pode não nos querer incomodar com o seu problema.
·     A pessoa pode achar que o seu problema não tem solução e portanto não vale a pena “perder tempo” com o assunto.
·     A pessoa pode ter desistido de lutar.


Como Proceder

Dependendo do conhecimento que tivermos da situação, ou da relação de confiança que tivermos com a pessoa em causa, podemos perguntar-lhe directamente se tem algum problema ou se precisa de ajuda.
Ex: Reparei que ultimamente tens andado estranho, mais calado. Aconteceu alguma coisa?
Estás com algum problema?
Está tudo bem lá em casa?

Se a pessoa confirmar que de facto existe algum problema, podemos então fazer perguntas para percebermos melhor qual é o problema e se podemos ajudar a resolvê-lo. 

Por vezes o problema pode não ter solução ou a pessoa pode não querer uma solução naquele momento. Muitas vezes a pessoa só quer falar do problema e ser ouvida por alguém, e nesse caso não vale a pena tentarmos resolver o problema. O melhor que podemos fazer para a ajudar é apenas ouvi-la, ir dando sinais de que estamos atentos e fazendo algumas questões abertas (cuja resposta possível não seja “SIM” ou “NÃO”) que façam a pessoa desenvolver o seu raciocínio, e quem sabe encontrar ela mesma a solução. Do tipo:
- Porque é que sentes/ dizes isso?
- O que é que achas que pode ser feito para resolver isso?
- Como é que isso aconteceu?

O segredo é: OUVIR. E no fim se houver algo que possamos fazer para ajudar essa pessoa, então oferecemos a nossa ajuda. Se ela não aceitar, temos que respeitar a sua decisão, e de vez em quando podemos ir perguntando como estão as coisas em relação a esse assunto. Essa é a ajuda que podemos dar nestes casos; ouvir e mostrar interesse.

Mas se a pessoa não nos confirmar que tem um problema, ou se não tivermos uma relação de confiança que permita perguntar-lhe directamente, temos que adoptar outra estratégia completamente diferente.

Tentar obrigar a pessoa a dizer-nos qual é o verdadeiro problema ou dizer-lhe que estamos a tentar ajudá-la e ela não deixa, ou que vamos desistir de a tentar ajudar, resultam como acusações e formas de pressão, que só vão fazer com que a pessoa se feche ainda mais e possivelmente aumentar o problema. O mesmo sucede quando começamos a sugerir soluções dizendo que a pessoa deveria fazer “isto” ou “aquilo”, ou lhe perguntamos: “Porque é que não fazes o seguinte?” 

Não podemos deixar que a nossa frustração se sobreponha ao nosso objectivo, que é ajudar o outro. Isto não é sobre mim, mas sim sobre a outra pessoa.

Se a pessoa não nos diz que tem um problema, mas é flagrante que o seu comportamento não é normal, ou é depressivo, temos que começar por conquistar a confiança da pessoa.
Como é que fazemos isso?
Se a queremos ajudar devemos começar por pedir-lhe a sua ajuda ou a sua opinião. Ao fazê-lo estamos a reforçar a sua auto-confiança e a demonstrar-lhe que a sua ajuda ou conselho são importantes para nós.

Somos animais sociais, e muito do que fazemos enquanto indivíduos baseia-se no princípio da reciprocidade. Ou seja, se alguém me ajuda eu sinto-me na obrigação de ajudar a outra pessoa. Mas, se eu ajudo alguém também espero que a outra pessoa se sinta na obrigação de me retribuir de alguma forma. E essa retribuição pode ser apenas dizer: “Obrigado!” Não se trata aqui de ser calculista (ou interesseiro), mas sim da noção quase inconsciente de que é assim que funcionam as relações entre as pessoas. É uma questão de confiança.

A nossa sobrevivência enquanto espécie sempre dependeu de podermos confiar nos outros membros da nossa tribo, para nos ajudarem ou protegerem quando nós não o conseguimos fazer sozinhos. Neste caso, ao demonstrarmos que confiamos na outra pessoa, existe uma maior probabilidade dela começar a confiar em nós. E nesse caso, com o tempo, e dependendo do problema que a afecta, vai ser possível abordar o assunto, ou o problema simplesmente deixa de existir (no caso da pessoa sentir que não é valorizada).


Ajudar os outros sempre foi a actividade humana que nos deu mais satisfação pessoal. E hoje em dia vivendo em “tribos” tão desestruturadas é cada vez mais comum que as pessoas sintam que não podem contar com a ajuda de ninguém, e por isso se isolem nos seus problemas. Dando a oportunidade de as pessoas colaborarem connosco, ou em algo para além delas mesmas, é não só a melhor forma de ajudar aqueles que parecem não querer ser ajudados, como também a melhor forma de ajudar a sociedade em si mesma.



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